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"Num jeito enciclopédico de colecionar, Davi Bernardo recolhe seus objetos e produz seus próprios textos num devir de acasos e recordações, para que o mundo continue a existir, agora obra de arte sua, reinventado mundo desfolhado em suas mil páginas de intimidade e estranhamento, como se reencenasse um prazer de infância de enciclopédias e livros de arte adivinhados mais que lidos na biblioteca dos pais.
Seu dicionário faz duvidar dos dicionários, seu texto-imagem brinca tanto com a fixação das palavras quanto com a flutuação da experiência do mundo.
Meio às cegas, apalpamos com os olhos sua escrita-imagem, às vezes a metal, às vezes a tinta, às vezes a fogo - foi feita para durar - por certo estas matérias durarão mais que nós. Sensação contrária, também persistente é essa instabilidade, lugar onde o artista nos coloca, pois qualquer que seja a sua escolha: cadeira, porta, chaveiro, moldura, gaveta, parede, canto de sala, fotografia, como espaço suporte da obra ou superfície em forma ambígua, o que ecoa é esse jogo de narrativas superpostas em texto-imagem que se conta em nós na busca de decifrar o que quer nos contar.
Grande parte da leitura da obra são lacunas. Em fragmentos, vazios, faltas, nos surpreendemos a investigar a ressonância de nossas próprias memórias, reconhecidas e estranhadas em objetos familiares ou palavras inventadas, por isso esse provocativo distúrbio entre ver e ler aqui persiste como qualidade essencial da obra."

Sonia Rangel
Artista Visual e Cênica

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